quinta-feira, 5 de novembro de 2009

No pulo do Gato




Uma criança de cinco, seis anos às vezes sabe a respeito

de D'us ou do bem e do mal coisas tão

surpreendentes e de uma profundidade tão

inesperada que você conclui involuntariamente

que a natureza dotou essa criança de certos recursos

de aquisição de conhecimento que nós não só desconhecemos,

mas, com base na pedagogia, deveríamos refutar…

ela possivelmente sabe sobre Deus tanto quanto

você e talvez bem mais que você sobre o bem e o mal,

sobre o que é vergonhoso ou lisonjeiro.

Fiódor Dostoiévski
em “Diario de um escritor” –

citado na nota de rodapé de

“O idiota”, Editora 34, p.91.


Estratégias do Sistema para Manipular a Opinião Pública e a Sociedade

1 – Estratégia da Diversão

Elemento primordial do controlo social, a estratégia da diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das transformações decididas pelas elites políticas e económicas, graças a um dilúvio incessante de distracções e informações insignificantes.

A estratégia da diversão é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar por conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. «Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, presa por assuntos sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem tempo algum para pensar; de regresso à jaula com os outros animais» (extracto de «Armes silencieuses pour guerres tranquilles»).

2 – Criar problemas para oferecer soluções

Este método é também chamado «problema-reacção-solução». Cria-se um problema, uma situação prevista para suscitar uma determinada reacção do público, afim que seja ele mesmo a pedir soluções que à partida se lhe desejavam impor.

Por exemplo: deixar desenvolver a violência urbana, ou organizar atentados terroristas, para que o público peça leis securitárias em prejuízo da liberdade. Ou ainda: Criar uma crise económica para fazer aceitar como um mal necessário o recuo dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3 – A estratégia do «gradual»

Para fazer aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la progressivamente, «de forma gradual», ao longo de um período de 10 anos. Foi desta forma que foram impostas condições sócio-económicas radicalmente novas de 1980 a 1990. Desemprego massivo, precaridade, flexibilidade, deslocalizações, salários que já não garantem um rendimento decente, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido impostas bruscamente.

4 – A estratégia do diferimento

Uma outra forma de fazer passar uma decisão impopular é apresentá-la como «dolorosa mas necessária», obtendo o acordo do público no presente para uma aplicação futura. É sempre mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro porque o esforço não é exigido logo de seguida. Depois porque o público tem sempre tendência a esperar ingenuamente que «tudo melhore amanhã» e que o sacrifício pedido possa ser evitado. Enfim, isso deixa tempo ao público para se acostumar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando o momento chegar.

Exemplo: A passagem ao Euro e a perda de soberania monetária e económica foram aceites pelos países europeus em 1994-95 para uma aplicação em 2001. Outro exemplo: os acordos multilaterais da ALCA que os EUA impuseram em 2001 aos países do continente americano, reticentes, concedendo-lhes uma aplicação diferida no tempo até 2005. (NdT: Todo o processo de implementação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um exemplo desta estratégia).

5 – Dirigir-se ao público como a crianças

A maior parte das publicidades destinadas ao grande público utilizam um discurso, argumentos, personagens, e um tom particularmente infantilizantes, frequentemente próximo do debilitante, como se o espectador fosse uma criança de tenra idade ou um atrasado mental.

Quanto mais se tenta enganar o espectador mais se adopta um tom infatilizante. Porquê? «Se nos dirigimos a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos, então, por força da sugestão, ela terá, com alguma probabilidade, uma resposta ou uma reacção tão ausente de sentido crítico como a de uma criança de 12 anos». (cf. « Armes silencieuses pour guerres tranquilles»)

6 – Apelar à emoção mais que à reflexão

Apelar à emoção é uma técnica clássica para fazer curto-circuito na análise racional, e portanto do sentido crítico dos indivíduos. Para mais, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para aí implantar ideias, desejos, medos, pulsões ou comportamentos…

7 – Manter o público na ignorância e na estupidez

Agir de maneira a que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados no seu controlo e escravização. « A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser do mais pobre possível, de tal forma que o fosso de ignorância que separa as classes inferiores das classes superiores seja e permaneça incompreensível pelas classes inferiores». (cf. « Armes silencieuses pour guerres tranquilles»)

8 – Encorajar o público a comprazer-se na mediocridade

Encorajar o público a achar «cool» o facto de ser estúpido, vulgar e inculto…

9 – Substituir a revolta pela culpabilidade

Fazer crer ao indivíduo que ele é o único responsável da sua infelicidade, por causa da insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades ou dos seus esforços. Assim, em vez de se revoltar contra o sistema económico, o indivíduo desvaloriza-se e culpabiliza-se a si próprio, o que suscita um estado depressivo em que um dos efeitos é a inibição da acção. E sem acção não há revolução!

10 – Conhecer os indivíduos melhor do que eles se conhecem a si próprios

No curso dos últimos 50 anos, os progressos fulgurantes da ciência cavaram um fosso crescente entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dirigentes. Graças à biologia, à neurobiologia, à psicologia aplicada, o sistema chegou a um conhecimento avançado do ser humano, tanto fisicamente como psicologicamente. O sistema passou a conhecer o indivíduo médio melhor do que este se conhece a si próprio. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema detém um maior controlo e poder sobre os indivíduos do que eles próprios.

Autoria anónima

Fale de Amor, no espelho d’água de seus olhos e alma;

Prega o Evangelho!, e se for preciso, use palavras.


Santo Agostinho