sexta-feira, 18 de junho de 2010

Abraçando a Imperfeição


"Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.

Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia na escola. Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geleia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:
" - Eu gosto de torrada queimada..."

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada. Ele me envolveu em seus braços e me disse:

- Filho, sua mãe teve hoje um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém.
E mesmo que ela não estivesse cansada, sei que não fez por querer!
A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou um melhor empregado, ou cozinheiro!

O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros."


De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, tios, tias e com amigos enfim....

Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Fale sobre isso...


“Todos os povos na Sua presença são como se não existissem, e Ele os considera como um nada, uma coisa que não existe.” (Isaías 40:17) 




Multiplico desde sempre artimanhas para não revelar a minha ausência de um mundo que se ocupa de assuntos e prazeres que nunca compreendi. Tento, por vezes, aprender essa língua estrangeira que quase todos falam. Apenas momentaneamente o consigo. Este sentimento do mundo é antigo. Vem sem dúvida da mais remota infância. Devo então ter-me recusado a aprender alguma coisa cuja aprendizagem é impossível mais tarde. Ignoro se é uma graça ou uma enfermidade. Sei apenas que me é impossível viver num mundo em que não acredito.

Christian Bobin