segunda-feira, 24 de maio de 2010

MULHER BUNDA - MOLE, rs

Pessoal li em um blog, achei muito legal e recomendo para todos e uma semana abençoada em D'us.

MULHER BUNDA - MOLE



Fernanda acordou às seis, arrumou as crianças, levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações.
Fez um supermercado rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda, saiu como sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em lugar proibido, enquanto ia, por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.

No caminho do trabalho batucava ansiedade no volante, num congestionamento monstro, e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.

Chegando à delegacia, foi quase atropelada por uma gata escultural que, segundo soube, era a nova investigadora, recém enviada pela chefia geral para o cargo que ela, Fernanda, fez de tudo para pegar, mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência em quase todas as delegacias e nos departamentos especializados e por sua dedicação, e destreza no uso de armas, e sua aptidão para investigar não conseguiu.
Pensou se abdômen definido contaria ponto, mas logo esqueceu a gata, tira pára-quedas e calça branca porque no meio de uma reunião com o titular, ligaram do colégio de Clarinha, sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.

Tentou em vão achar o marido pelo Nextel, pelo celular e em última instância pelo rádio da polícia e, como não conseguiu, resolveu ela mesma ir até o colégio, depois do encontro com o novo titular que acabava de assumir a delegacia, que se revelou um chato, neurótico, desconfiado e com quem teria que lidar nos próximos meses.

Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado. Pensou em tudo que ainda ia ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor. Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.
Quando chegou em casa, descobriu que tinha deixado a porcaria da pasta com os relatórios de investigações que precisava ler para o dia seguinte na delegacia! Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os malditos relatórios de investigações na sua sala, na DP, mas a bosta continuava fora de área.
Conseguiu, depois de vários telefonemas, que um agente lhe trouxesse a porcaria dos documentos e não foi nem com a viatura, foi com sua motocicleta que rateava e falhava de um cilindro. Argh..!

Tomou uma merda de banho, deu a droga do jantar para as crianças, fez a porcaria dos deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.

Artur chegou puto de uma reunião na sede do departamento, reclamando de tudo. Jantaram em silêncio.
Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de sono. Artur a acordou com tesão, a fim de jogo. Como aqueles momentos estavam cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer um último esforço de reportagem e transar.

Deram uma meio rápida, meio mais ou menos, e, quando estava quase pegando no sono de novo, sentiu uma apalpadela no seu traseiro com o seguinte comentário:- Tá ficando com a bundinha mole, Fernanda... Deixa de preguiça e começa a se cuidar.

Fernanda olhou para o abajur de metal e se imaginou martelando a cabeça de Artur até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro! Já podia antever os tiras da homicídios fazendo o local com a competente recognição visuográfica que aprendera ao ler na academia o livro Recognição Visuográfica e a Lógica na Investigação Criminal lançado pelo Doutor Marco Antônio Desgualdo.
Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas! Com um alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes depois lhe deu um chute tão brutal no saco, que voou espermatozóide para todos os lados! Pobre do Artur...

Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda: como controlar as emoções negativas. Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou. Não ia valer a pena, não estamos nos EUA, não conseguiria uma advogada feminista caríssima que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido cega de tensão pré-menstrual... Resolveu agir com sabedoria.
No dia seguinte, não levou as crianças ao colégio, não fez um supermercado rápido, nem brigou com a empregada. Foi para uma academia e malhou duas horas. De lá foi para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju e as unhas de vermelho. Ligou para o titular da delegacia, aquele insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele da viatura dele e do projeto dele de como tocar uma delegacia cheia de problemas mil.... E aguardou os resultados da sua péssima conduta, fazendo uma massagem estética que jura eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.

Enquanto se hospedava num spa, ouviu o marido desesperado tentar localiza-lá pelo celular e descobrir por que ela havia sumido. Pacientemente não atendeu. E, como vingança é um prato que se come frio, mandou um recado lacônico para a caixa postal dele. 
 
 

- A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura. Um beijo da preguiçosa...
(Extraído do livro: Este sexo é feminino/Patrícia Travassos e adaptado para o contexto policial por Marco Vinícios Ferreira, do blog Ligeirinho).

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